Eu Prefiro a Roça

Todas as vezes que falo para alguém da cidade grande de onde sou ou vim, percebo um ar de superioridade nos metropolitanos. O fato é que eu vim de uma cidade do interior, pequena, longe, atrasada. Meio roça, meio cidade.
Eu prefiro a roça não por ter nascido lá. Eu prefiro a roça pela simplicidade, pelas ruas calmas, pelo ar puro. Eu prefiro a roça porque a agitação das grandes cidades drena a minha energia.
Porém, é bem verdade que o dinheiro circula pouco, que não tem shopping center nem restaurantes caros, que tem pouco lazer - para alguns, nenhum - e que fica longe da civilização. Oh maravilha! Posso até sentir o cheiro de terra molhada só de imaginar.
Comer frutas no pé, não ficar horas em um engarrafamento, acordar sem pressa, dormir sem pressa, sentir a fresca no rosto, ir andando ou de bicicleta para o mercadinho, para escola, para farmácia. Sair cumprimentando pela rua "oi dona fulana; oi seu sicrano; como vão as crianças?; sua mãe tá bem?", e por aí vai. Na roça é impossível não encontrar um conhecido quando sai na rua.
Tem quem ame o barulho de buzina, as comidas congeladas, o cheiro de fumaça, as filas de espera, as paredes cinzas e o bafo quente no rosto. Está tudo certo! Só o que está errado é o ar de superioridade. Há prós e contras na cidade e na roça, basta focar naquilo que faz sentido para você.
Outro dia recebi no grupo da família, um vídeo onde dois humoristas faziam piada com uma pessoa da plateia que morava no interior. Depois assisti o mesmo vídeo nas redes sociais e sabe de uma coisa, aqueles caras eram muito mais atrasados que qualquer "Chico Bento". Fazer piada com uma pessoa que mora na roça só porque ela mora na roça é mais cafona e sem graça do que o próprio Silvio Santos.
Humoristas que precisam de pessoas nascidas no interior para fazer graça, estão longe de serem engraçados. São somente cafonas!
Apesar de já ter morado em outro país e também na capital, hoje percebo que a vida no interior faz muito mais sentindo para mim. E que bom que há quem ame a cidade e há quem ame a roça, assim é possível dividir interesses e todo mundo sai ganhando e feliz. Ou você acha que a cidade se sustenta sem a simples vida do campo?
Não se envergonhe nem se orgulhe, não é o lugar que você mora que te torna uma pessoa melhor ou pior, engraçada ou sem graça. Pessoas estão em todos os lugares e cada uma tem a sua história e seu sentido de vida, formando um imenso quebra-cabeça planetário.
E hoje, mais do que nunca, com o avanço da tecnologia e a globalização, campo e cidade nunca foram tão próximos. Ainda bem!