Seriam os currículos, patos franceses?

28/04/2022

Ouvindo Barão Vermelho eu até sinto um alívio. Pena que a realidade não dá trégua e aí me lembro que preciso atualizar meu currículo.

Mas gente, precisa mesmo de tantas pós, especializações, cursos de reciclagem pra ser um bom profissional? Sou de uma época em que profissional bom era aquele com experiência na área e não um amontoado de informações. Aliás, conhecimento sem prática nunca será sabedoria.

São tempos desumanos. Tempos em que o poço está sempre vazio e estamos constantemente em busca de algo para preencher esse poço sem fundo. E nem precisa buscar muito, porque o que existe de oferta no mercado de cursos de todos os tipos, formatos e tamanhos é mais do que se pode imaginar.

E tudo bem em querer se especializar, aperfeiçoar, aprofundar, diversificar. Cada um sabe de si. No entanto, o que me deixa encasquetada, é se essa é uma necessidade do indivíduo, ou se faz parte de uma modinha, uma onda sociológica, cultural ou de massa. Pior, de uma escassez de oportunidades e demandas excessivas, dando margem à concorrência desleal.

É sobre o mundo em que vivemos que eu quero falar.

São tempos desumanos. Seja você um profissional de qualquer área ou simplesmente pais, cônjuges, filhos, seres humanos, o currículo está cada vez mais extenso. Precisamos preencher brechas cada vez mais estreitas. Inclusive eu gostaria muito de incluir a maternidade no meu currículo, pelo tanto de sabedoria que ser mãe me trouxe. Inegavelmente, esta é a faculdade mais intensa e ampla até agora, já que os aprendizados podem ser aplicados em muitas áreas.

Os cursos da vida andam tão sem valor e ofuscados pelos milhares de outros como: como ficar rico, como ser um líder, como gerir as próprias emoções, como etc. Talvez eu pareça contrária a expansão do conhecimento, porém não. A minha reflexão aqui está justamente na ausência de reflexão e no excesso de camadas que a gente vem adquirindo, que as vezes nem servem para nada. Ou melhor, servem para colocar no currículo.

Aquelas camadas vivaz, reais e tangíveis não garantem o pão, infelizmente. Minhas vivências profissionais e humanas também não garantem. Preciso adicionar meus cursos ao currículo. São tempos desumanos. Tempos em que precisamos engordar o currículo, assim como fazem com os patos na França.

Mas e o depois?

Depois, portas se abrem, porém sem nenhuma garantia já que a quantidade sobrepõe a qualidade. E depois elas se fecham, e adicionamos novos cursos, novas camadas e mais portas se abrem, depois se fecham. Assim a gente vai vivendo, ou sobrevivendo, ao som de Barão.

Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora